Você já se perguntou por que não conseguimos lembrar da nossa infância mais remota, daqueles primeiros passos ou das primeiras palavras? Uma pesquisa recente publicada na revista Science revelou uma descoberta impressionante: bebês formam memórias já no primeiro ano de vida. Isso mesmo! Embora essas lembranças possam desaparecer com o tempo, elas estão lá, guardadas bem no fundo da nossa mente desde cedo.
Como a pesquisa foi realizada?
O estudo, liderado pelo professor Nick Turk-Browne, da Universidade de Yale, analisou 26 bebês divididos em dois grupos: um com bebês menores de um ano e outro com bebês acima dessa idade. Para contornar as dificuldades comuns em pesquisas com crianças tão pequenas, como o movimento constante e a falta de comunicação verbal, os cientistas inovaram. Eles utilizaram chupetas, cobertores confortáveis e imagens psicodélicas para garantir o conforto e a atenção dos pequenos durante exames de imagem por ressonância magnética funcional (fMRI).
A equipe mostrou aos bebês diversas imagens de rostos, objetos e cenários e, posteriormente, verificaram se havia sinais de reconhecimento cerebral ao reapresentarem essas imagens. O resultado surpreendente foi que 11 dos 13 bebês acima de um ano já demonstravam clara atividade cerebral relacionada à memória, comprovando que a formação de lembranças começa bem antes do que se pensava.
bebês: Por que esquecemos as primeiras memórias?
Uma das maiores curiosidades do estudo é justamente explicar por que essas primeiras memórias não permanecem conosco. Segundo Turk-Browne, o motivo está no desenvolvimento do hipocampo, uma região do cérebro responsável pela formação e armazenamento das memórias episódicas, que ainda não está totalmente desenvolvido durante os primeiros anos de vida.
Ele explica:
“Sempre me fascinou esse vazio misterioso que temos em nossa história pessoal”. (fonte)
De acordo com o estudo, as memórias infantis podem simplesmente tornar-se inacessíveis com o tempo devido à imaturidade do hipocampo naquela fase inicial da vida. Ou seja, elas não necessariamente desaparecem, mas ficam guardadas de forma tão profunda que não conseguimos acessá-las conscientemente depois.
Sigmund Freud e o mito das memórias reprimidas
Durante muito tempo, acreditava-se que essas memórias iniciais fossem reprimidas por motivos emocionais ou psicológicos, uma ideia proposta por Sigmund Freud. Entretanto, essa hipótese hoje é amplamente descartada pela ciência moderna. Pesquisas atuais apontam claramente para explicações neurobiológicas, relacionadas ao desenvolvimento cerebral, especialmente do hipocampo.
Memórias adormecidas ou perdidas para sempre?
O estudo levanta uma grande questão ainda não totalmente respondida: será que essas memórias são perdidas definitivamente ou apenas estão “adormecidas”, esperando para serem despertadas em algum momento da vida?
Para testar essa teoria, a equipe de Yale já começou uma nova fase da pesquisa, onde crianças maiores assistem vídeos filmados da sua própria perspectiva quando eram bebês. Curiosamente, os resultados iniciais sugerem que essas lembranças podem persistir por mais tempo do que se imaginava, talvez até os três anos de idade.
Turk-Browne comenta:
“Acredito fortemente que essas memórias não desaparecem completamente, mas ficam escondidas, inacessíveis à nossa consciência imediata”.
O que isso significa para pais e educadores?
Essa descoberta pode ter um impacto profundo na maneira como vemos o desenvolvimento infantil. Com a confirmação de que bebês formam memórias desde o primeiro ano, pais e educadores podem reconsiderar como interagem e estimulam os pequenos desde os primeiros meses de vida.
Experiências positivas, estímulos sensoriais e interações carinhosas podem deixar marcas mais profundas do que imaginávamos, moldando o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças muito mais cedo do que se pensava.
Conclusão
O estudo publicado na Science é um marco ao provar que bebês são capazes de formar memórias desde cedo. Embora o mistério sobre por que não conseguimos acessar essas memórias mais tarde ainda não tenha sido totalmente esclarecido, as novas descobertas já oferecem uma nova perspectiva sobre o incrível potencial do cérebro humano desde o início da vida.
Perguntas frequentes
- Desde que idade bebês começam a formar memórias? A partir do primeiro ano de vida, bebês já formam lembranças segundo a pesquisa recente.
- Por que não lembramos das experiências da nossa infância? Porque o hipocampo, parte do cérebro responsável por armazenar memórias, não está totalmente desenvolvido nos primeiros anos de vida.
- Essas primeiras memórias desaparecem para sempre? Não está claro ainda. Pesquisadores acreditam que essas memórias ficam inacessíveis, não necessariamente esquecidas.
- Quem liderou essa pesquisa inovadora? A pesquisa foi liderada pelo professor Nick Turk-Browne, da Universidade de Yale.
- Como a descoberta afeta pais e educadores? A pesquisa sugere que interações e estímulos positivos desde o primeiro ano de vida são essenciais, já que podem influenciar o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças.